"Rocks", do Aerosmith: um disco perfeito


 

 Há quase cinco décadas o Aerosmith lançava “Rocks”, um dos principais álbuns de sua carreira. À época, a banda vivia seu auge e já contava com seis anos de estrada e três discos. O trabalho foi recebido com bastante interesse pela crítica norte-americana uma vez que a obra anterior, “Toys in The Attic” (1975) havia feito um sucesso estrondoso no país.

“Rocks”, quarta produção do grupo, é referência no mundo da música e é influência na carreira musical dentro das diversas tendências do segmento. Como destaque, podemos citar a primeira faixa “Back In The Saddle”, uma grande composição com uma performance de guitarra espetacular de Joe Perry que estava no ápice criativo nesse período. A curiosidade fica por conta do som de um chicote deveras autêntico, que é feito por Steven Tyler para simular uma cavalgada. A autenticidade se estende ainda ao sabermos, pelo próprio Steven numa antiga entrevista, que a palavra “saddle” (cela, em inglês) também teria cunho sexual. A propósito, a música traz sua voz raivosa, além de Joe Perry tocando um baixo de seis cordas. 

Impossível não ressaltar a interessante troca de funções nesse que é, talvez, o disco mais experimental do Aerosmith, já que Tom Hamilton toca a guitarra e Perry faz as vezes de baixista em “Sick As a Dog”.

“Rats in the Cellar” traz o experimental uso de loops de fitas. ”Last Child” é outra faixa que se transformou em um grande clássico da banda e conta com uma grande perfomance vocal de Tyler. Traz um riff incrível, com um groove influenciado pelo funk. Nela, Whitford apresenta um excelente solo , mostrando que ele vai muito além de um excelente guitarrista base.

”Combination” tem uma dose alta de rock n’ roll, às vezes subestimada pela crítica e pelos próprios fãs. Nesta música é possível ouvir o vocal de Joe Perry acompanhando durante toda a extensão da faixa. Ao vivo podemos encontrar vídeos de Perry cantando sozinho a canção, inclusive com Steven Tyler nas baquetas.

“Nobody’s Fault” é uma das faixas desse álbum e um exemplo de influência na escolha musical e instrumental do guitarrista Slash do Guns n’ Roses, citado em várias entrevistas dadas pelo músico. Ganhou versões de artistas como Testament, Vince Neil, Jackyl e L.A. Guns. Talvez seja  o maior destaque do disco e uma das mais pesadas músicas da carreira do quinteto de Boston. Joey Kramer já afirmou, certa vez, que a considera  como a canção que melhor mostra o seu trabalho de bateria.

Para muitos pode até parecer exagero, mas estamos falando de um dos discos mais impactantes da história do rock mundial, pois influenciou muitas bandas como o Nirvana, o Guns n’ Roses, Skid Row e uma gama de gente boa que veio nos anos seguintes ao seu lançamento. Foi o primeiro trabalho do Aerosmith a alcançar status de platina, vendeu cerca de 7 milhões de cópias em todo o mundo e chegou ao terceiro lugar na parada americana.

“Rocks” é a obra de peso dos caras e deve estar em qualquer lista de Hard/Heavy que se preze, pois é um álbum como um todo enérgico e, principalmente, bastante cru. Um disco sólido, marcante, experimental e pesado. Assinalou de vez a conexão criativa dos Toxic Twins. Aliás, foi nessa época que eles ganharam esse apelido.

Na verdade, junto com Toys,  é a essência da banda, sobretudo, do início de carreira. Dois álbuns bem menos melódicos e açucarados, se comparados com os lançados de “Permanent Vacation” (1987) pra frente que, nitidamente, são mais comerciais. Mas, para aqueles tempos, é compreensível que, ao voltar de um hiato, a banda precisava renovar seu Blue Army; se atualizando para aqueles então novos dias de MTV, com produção de Clips e fases em que os jabás em rádios ganharam ainda mais corpo.

Para quem não conhece "Rocks", sugerimos que o façam e, para quem já o conhece, que o ouça novamente.

* Esta resenha foi escrita em parceria com nossa coeditora Graziella Comunale.

Comentários