Maldita forever


Às 6h do dia 1 de março de 1982, chegava ao mundo, pelas mãos do brilhante Luis Antonio Mello e do saudoso Samuel Wainer Filho, a Rádio Fluminense FM, a Maldita.
Mas este acontecimento não se tratava apenas de um surgimento de mais um veículo de comunicação, ainda nos idos da ditadura.
Ao lançar bandas nacionais como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Lobão e os Ronaldos, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, entre outras, a Rádio promovia também o Rock atitude que, só quem viveu a época, pode explicá-lo com propriedade.
A juventude dos anos 80 deixou-nos um legado que resiste e insiste em levantar a bandeira do protagonismo hoje em dia.
À época, através da Música, os jovens montavam bandas e manifestavam suas dores, zoações e opiniões políticas, mesmo sabendo apenas alguns acordes. Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas, não sabia tocar uma nota quando o grupo criou o que viria a ser o primeiro hit: “Vital e sua Moto”.
Foi neste tempo que nasceram letras melancólicas  (“Todos os dias quando acordo já não tenho mais o tempo que passou”- Legião Urbana), politizadas (Com tanta riqueza por aí onde é que está, cadê sua fração-Plebe Rude), românticas (“Fazer amor de madrugada, amor com jeito de virada”- Kid Abelha) e divertidas (“Você não soube me amar...”- Blitz).
A Música conseguia expressar os anseios de um público que se sufocava com as regras de um Brasil em regime ditatorial. A Censura vinha com golpes de foice para limar quaisquer atos de contrariedade à “ordem” nacional.
Mesmo assim, surge um Leo Jaime, aos 25 anos com “Solange”, uma versão de “So Lonely”, do The Police, para atacar a feroz Solange Hernandez que chefiava o departamento de censura na época do regime militar. Ouvindo este som, torna-se até engraçado entender versos como "Você é bem capaz de achar/Que o que eu mais gosto de fazer/Talvez só dê pra liberar/Com cortes pra depois do altar"
E tudo isso, folks, era veiculado pela Maldita... Antes dela, as novidades gringas chegavam apenas por mídia imprensa. Que internet, que nada! Estamos falando dos anos 80 e primeira metade dos 90. Lloyd Cole and the Commotions, Talking Heads, Lou Reed... Tudo de novo chegava aqui pelas ondas da Maldita.
Sinto-me honrada em dizer que fiz parte desta história já em período próximo ao fechamento para dar lugar a uma rádio de pop chiclete batidão. Eu e minha mana Grazy, fiel escudeira, passávamos tardes e noites no estúdio ou na sala de programação com meu amigo programador Gilnei Hervano sugerindo e ouvindo bandas e até já dando pitacos sobre o “Módulo Covardia”. Convivíamos também com a Débora Santos, mestra na locução, o ouvinte adolescente Loli cujo apelido tinha sido dado pela fera Monika Venerabile (atualmente ele é o Orelhinha, locutor), Alessandra Sartori, da promoção... Tinha a queridona Selma Boiron que foi uma das primeiras locutoras... Maradona, Lariú e o povo do College Radio...Grandes lembranças.
Mas, enfim, no último dia, a locutora (e minha amiga pessoal) Grace Vedder, aos prantos, fez questão de “colocar na agulha”(como nos referíamos ao executarmos sons em discos vinis) o último suspiro sonoro da Maldita, o clássico “My Generation”, do The Who.
Em Niterói, no saguão do prédio onde ficava a rádio, “quintal” de minha casa, como costumo dizer, um aglomerado de jovens vestia preto. Todos enlutados com o desaparecimento da Maldita. Entre lágrimas e abraços, encerrava-se um capítulo da História do Rock no Brasil.
Que a data “Primeiro de Março” não seja apenas conhecida por ser somente o nome de uma via importante no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Comentários

  1. Ainda pré adolescente já curtia o rock clássico....e depois o pop-rock nacional....e muits horas ligado na saudosa rádio Fluminense...saudade.....

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